O que é Transferência na Psicanálise?
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INTRODUÇÃO AO ASSUNTO TRANSFERÊNCIA ‒ Designa em psicanálise o processo pelo qual os desejos, sentimento, emoções inconscientes que anteriormente foram recalcados, se atualizam como sentimentos ao ser o indivíduo estimulado em novas situações, por determinados objetos. ‒ Esses objetos desencadeiam, pela estimulação que produzem, uma identificação inconsciente com os conteúdos recalcados (desejos) que já foram rejeitados pelo ego, na ação da censura interna e externa. ‒ Normalmente, em psicanálise, fala-se de transferência tomando-se o analista como objeto da identificação inconsciente. ‒ Contudo, a transferência de maneira geral pode abranger todas as relações do indivíduo com os diversos objetos que produziram identificações inconscientes com conteúdos recalcados. ‒ Assim, a transferência é decorrente da atualização de desejos rejeitados e recalcados, ligados às vivências infantis, da adolescência ou mesmo da fase adulta, que retornam (no pré-consciente) com sentimentos que se chocam novamente com os padrões do ideal de ego e do ego ideal. ‒ A transferência é classicamente reconhecida como terreno em que se dá toda a problemática de um tratamento psicanalítico, já que caracteriza inicialmente uma resistência ligada ao retorno do conteúdo recalcado, já que este fica inalterado.
Lembre-se que a identificação inconsciente com objetos que desestabilizam o ego produzindo clivagens (desejo x realidade) exigirá novos contrainvestimentos para que as lembranças ligadas à identificação inconsciente do ego não mobilizem o livre retorno do recalcado e consequentemente de representantes psíquicos. ‒ Por outro lado, a atualização dos desejos inconscientes do paciente sobre o objeto analista apresenta uma grande oportunidade para a identificação do material recalcado, possibilitando a interpretação analítica, permitindo desse modo a sua resolução através da perlaboração. ‒ Desse modo, a transferência fornece uma ocasião privilegiada para a observação terapêutica das repetições de vivências passadas do indivíduo que produziram a cada momento clivagens do ego. ‒ Normalmente o que é transferido são sentimentos decorrentes de desejos como por exemplo: de agredir, de se acovardar, de agir com egoísmo, com ciúme, agir com superioridade ou com inferioridade, com desejos sexuais: homossexualidade, com incesto, com poligamia, com amor etc. ‒ As transferências estão sempre ligadas ao modo como o indivíduo desenvolve as suas relações de objeto (pessoa, situações etc.) e como produziu representações ou imagos que foram intensamente censuradas pelo superego. ‒ Na transferência, acreditamos que esse retorno energético confunde-se com energia decorrente da pulsão do id que força o ego novamente a agir para a solução de suas clivagens. ‒ O que é transferido e atinge o ego pode estabelecer sentimentos de natureza positiva ou negativa, sendo função daquilo que anteriormente foi rejeitado e repelido pelo ego na produção do recalque. ‒ A transferência positiva caracteriza-se por sentimentos ternos e a negativa por sentimentos hostis em relação ao objeto. ‒ Desse modo, se o que foi rejeitado for ligado a sentimentos e desejos construtivos a transferência será positiva.
Explicando melhor ‒ Esse mecanismo de identificação consciente/pré-consciente da energia dos desejos transferidos é que explica fenômenos impressionantes da vida dos neuróticos. Freud cita casos em que determinada paciente transfere para o analista os desejos contidos nas representações recalcadas e que se atualizam nos conteúdos reprimidos no pré-consciente. Inicialmente, o conteúdo do desejo tinha surgido na consciência da paciente por uma identificação decorrente da associação com uma representação pré-consciente, sem nenhuma lembrança das circunstâncias passadas que produziram a clivagem do ego e o recalque anterior. Ex.: A paciente tem um desejo sexual reprimido de ter relações com seu marido, consideradas por ela como impróprias (ideal de ego), contudo anteriormente rejeitou e repeliu recalcando um desejo poligâmico de trair o marido com um ex-namorado. Ao mudar de emprego começa fazer uma identificação inconsciente com um colega de trabalho, projetando a poligamia recalcada pela transferência e associando-a ao desejo sexual reprimido de ter vivências sexuais com seu marido impróprias ao seu padrão moral. A partir daí passou a ter intensas fantasias sexuais com esse novo objeto não só de trair, mas também de fazer tudo que gostaria em termos de sexo. ‒ Desse modo, o desejo que se manifestou no momento presente era então função da associação de uma representação anódina (sem importância, insignificante) que estava reprimida no pré-consciente com o desejo recalcado transferido pela projeção, ligado à uma pessoa que anteriormente ocupou legitimamente os pensamentos da paciente. ‒ Essa ligação do desejo com a representação anódina (sem importância) Freud chamou de falsa conexão, contudo desperta os mesmos conflitos que no passado levaram a paciente a rejeitar o desejo oriundo do objeto proibido pelo ideal de ego/superego.
Se não houver retorno de recalcado (representantes psíquicos) uma representação inconsciente é totalmente incapaz de penetrar no consciente e não poderá exercer qualquer influência direta e lúcida sobre o ego a não ser colocando-se em conexão, pela transferência, com uma representação anódina que já pertence ao pré-consciente, transferindo para ela toda sua carga energética, emocional; confundindo-se com ela, fazendo o ego perceber claramente seus desejos e ligações com o objeto. ‒ Assim, podemos dizer que a partir de uma identificação inconsciente, que abre o caminho para a transferência pulsional, sempre haverá uma associação e consequentemente uma identificação consciente com o objeto, através de uma representação pré-consciente.
TRANFERÊNCIA PELO DESLOCAMENTO:
Algo mais sobre o Deslocamento pela transferência dos conteúdos recalcados ‒ Mecanismo ligado à permissividade do ego em relação aos investimentos do id. ‒ Mecanismo de transferência do inconsciente para o consciente ligado ao retorno de emoções destrutivas, agressivas, ou construtivas e que não puderam ser extravasadas por um impedimento situacional, ficando provisoriamente recalcadas. ‒ Toda vez que uma emoção ou sentimento carregado de excitações destrutivas ou construtivas deslocar-se de um objeto para outro substituto estaremos diante de um processo de substituição de objeto ou deslocamento, pela transferência do desagradável ou do agradável, para um novo objeto escolhido, sem que o indivíduo tenha lembranças ligadas a fatos anteriores ou perceba claramente estas associações. ‒
O conteúdo recalcado em relação ao objeto inicialmente conflitante permanecerá recalcado, saindo, por deslocamento, apenas a energia emocional, não um representante psíquico. ‒ Os deslocamentos pulsionais podem estar ligados a emoções boas ou não, voltadas a uma determinada pessoa ou ideia e serem deslocadas para outras pessoas ou mesmo para outras ideias ou até mesmo para objetos materiais ou sistemas. ‒ Quem não enfrentou aborrecimentos com o chefe no trabalho, ou nas relações sociais e não podendo descarregar na pessoa causadora, pelo nível de restrição existente, substituiu o “problema alvo” gerador da irritação, desforrando na esposa, nos filhos, no porteiro, no atendente de uma loja, nos objetos, sem se lembrar do aborrecimento original? ‒ Explicando melhor, podemos dizer que o nível de censura e de restrição momentânea, exerce, sobre o indivíduo, uma contenção, no campo racional, da sua manifestação emocional de revolta, talvez pelo risco de sofrer algum outro constrangimento maior. Nesse discernimento lúcido, quando surge um impulso agressivo que a censura proíbe, o ego pode recalcá-lo momentaneamente (reprime e imediatamente “esquece”: recalca) e deslocá-lo posteriormente para outro alvo menos restritivo, sem perceber o real motivo desta atitude. ‒ Geralmente, quando se experimenta um sentimento de revolta, insatisfação, animosidade contra algo ou alguém e cujas circunstâncias não lhe permitem expressar, o ego o desloca violentamente para objetos que muitas vezes são quebrados, ou o desloca para outras pessoas não envolvidas na problemática, escolhendo, via de regra, aquelas que não podem lhe causar mal: subordinados, dependentes etc. ‒ Entretanto, lembre-se que os deslocamentos ou substituições podem ser também positivos, ligados a bons sentimentos e emoções reprimidos.
TRANSFERÊNCIA POR PROJEÇÃO:
A projeção é geralmente de energia não tão intensa (emoções), entretanto trazem para o ego, tendências ou sentimentos recalcados e não apresenta uma característica abrupta, predominantemente emocional. ‒ Na projeção o ego não lembra das vivências e seus conteúdos recalcados. ‒ Não pensem em projeção só negativa. Ela também pode ser positiva. 4.4 Projeção pela transferência dos conteúdos recalcados no inconsciente ‒ É um mecanismo de aceitação e de permissividade do ego em relação ao investimento do id, trazendo as qualificações dos recalques e das tendências arcaicas (poligâmicas, homossexuais, incestuosas etc.). ‒ Consiste numa transferência de alguns conteúdos psíquicos do inconsciente para o consciente, sem nenhuma lembrança dos traços mnésicos presentes nas representações recalcadas, mantendo-se intacto os conteúdos dos recalques correspondentes. “A projeção é deste grupo, um claro e frequente exemplo”.
Resumidamente, podemos defini-la como um recurso pelo qual atribuímos aos outros nossos próprios desejos, sentimentos, tendências recalcadas e pensamentos, mas que não aceitamos em nós mesmos quer sejam negativos ou positivos. ‒ Assim, o eterno desconfiado, aquele que sempre acha que estão querendo enganá-lo e “puxar seu tapete” é, provavelmente, desleal e falso nas relações com as outras pessoas, mantendo estas tendências recalcadas, projetando-as negativamente sobre os outros. ‒ Já, o crédulo e confiante otimista em relação aos outros, é provavelmente, alguém confiável, leal e franco e projeta positivamente, sobre os outros, seus bons sentimentos. ‒ Na projeção o recalcado fica intacto, só havendo a transferência de alguns sentimentos que qualificam este recalcado como um todo. Também é exemplo de projeção a tendência – infelizmente tão comum em algumas pessoas – de apontar sempre um culpado, que não eles próprios, evidentemente, para seus erros e, principalmente, seus fracassos. O ciúme é um dos mais comuns mecanismos de projeção dentro do processo de transferência. ‒ Para alguns psiquiatras, o preconceito, inclusive o racial, é uma forma de projeção, inserindo-se na tendência de quem projeta de achar sempre um “bode expiatório” para suas próprias mazelas e as do mundo.